Eu tinha 6/7 anos, morava em Curitiba, na Rua Marechal Floriano (uma das mais conhecidas da cidade), defronte ao clube dos cabos da PM (ou algo assim) e costumava brincar com um menino de minha idade, José, que vivia numa mansão a meia quadra de minha casa. Mansão com bom quintal, era lá que nos esbaldávamos. José, filho temporão, tinha três irmãos já adultos, um rapaz sem o braço esquerdo (acho que era o esquerdo), perdido, se não me engano, na serraria do pai (com um braço só ele dirigia e jogava futebol) e duas moças, uma de cabelos claros, a outra de cabelos castanhos. Esta namorava um sujeito seriíssimo, de óculos e sempre de terno (azul-marinho ou preto) e gravata. De vez em quando o cara perdia um pouco do ar compenetrado e, em meio a um comentário qualquer, passava a mão na cabeça da gente.
Minha família se mudou para outro bairro, não tão perto da mansão de José, deixei de vê-lo. Fomos nos reencontrar anos depois, já adolescentes-quase adultos, e emendamos um papo comprido. Lembrança daqui-lembrança dali, e aquele cara de óculos, terno e gravata que namorava tua irmã? José soltou uma boa risada, pois ele casou com minha irmã, e você sabe quem é ele?
Ali pelos anos 70, numa de minhas idas a Curitiba, resolvi entrevistar Dalton Trevisan. Eu sabia que ele não dava entrevistas, mas tinha duas armas para dobrá-lo. Procurei-o na empresa da família, as tradicionais Lojas Trevisan (Lojas ou Casas?), e me apresentei: jornalista no Rio, com algumas incursões na área cultural, havia sido criado – a primeira arma – em Curitiba, lera quase todos os seus livros, conhecia bem os cenários... Ele, sem grosseria, me disse que não dava entrevistas, por favor...
Sacando então a segunda arma, muito mais poderosa que a primeira, lhe contei, sem os detalhes aqui necessários, a história que abre esta crônica. Dalton sorriu, que interessante, disse, o menino que brincava com o José era você, parece Borges. Senti uma ponta de orgulho, personagem borgeano, e, certo de que vencera a parada, fiz menção de puxar a caneta e o bloco de notas. Aí, de novo sem grosseria, o mestre repetiu que não dava entrevistas. E, me despachando, disse que falaria de mim ao cunhado José, como é mesmo o teu nome?
Saí triste, caminhei por ruas e praças palmilhadas pelo Vampiro de Curitiba. Me reanimou a ideia de que aquela havia sido apenas a primeira tentativa, um dia eu ainda entrevistaria Dalton Trevisan. Esperança que, transcorridos tantos anos, em certos momentos renasce.
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Agilidade
Caminhava cedo no Aterro, vi um mendigo se exercitando na grama. Fez uma série de abdominais e deu cinco ou seis cambalhotas seguidas. Agilíssimo. O inusitado é que ele cambalhotava para trás. Seria a expressão (inconsciente) do que lhe acontecera na vida?
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PROSEMAS
(Os Prosemas podem até parecer poesia, mas não são.
São apenas exercícios de escrita. Nada mais que exercícios de escrita)
Fazendo
Carta se data
Barata se mata
Grão se cata.
Ideologia se prega
Imposto se sonega
Embrulho se carrega
E a poesia? Poesia se faz
Mas sem rima fácil, Barrabás
(abril/87)
Total
No mundo
há de tudo.
E em tudo,
de tudo.
Nada sobra,
sobra nada.
(janeiro/97)
Trocaletra
Não gagueje. Qual seu adversário?
O elitismo ou o etilismo?
(novembro/02)