Tarde de sábado. Fechado no quarto, o Poeta sofre a falta de inspiração. Na garrafa meio palmo a menos de uísque, no papel palavras soltas, prosaicas, sem qualquer parentesco com poesia.
Feito o apostador supersticioso que tenta superar a má sorte com atitudes desvinculadas do jogo, como rodar a cadeira, fumar o cigarro do adversário ou vestir a camisa pelo avesso, o Poeta anda de braços abertos e joelhos dobrados, liga e desliga a televisão, muda a posição do telefone.
O telefone, o caderno de telefones. Abre-o ao acaso, talvez algum nome o inspire. P – Paulo Antunes: mentiroso compulsivo, me deve dinheiro. Paula Vinagre: autora de belos poemas eróticos, um gelo na cama. Pedro Aquino: levou minha biografia de Carlos Zéfiro, não devolveu. Patrício: ninguém mais culto e modesto que ele. D – Dora: me esnobou, preferiu um caipira endinheirado e Bauru: Duília: estúpida, ignorante, fascista, lindérrima. Décio: foi para Manaus, ouvi dizer que morreu. Débora: aos 30 e tantos, cultiva as roupas e os trejeitos dos 18. Dila: discute os problemas do mundo, depois reclama do egoísmo dos homens e chora. N – Nara: me transmite enorme ternura, apesar de falarem horrores dela.
Nenhuma luz, o Poeta fecha o caderno de telefones e abre a porta do quarto. Na sala, a faxineira trabalha. Ao vê-lo, ela o enfrenta:
- Será que o senhor me adiantava o dinheiro de dois meses? Extraí os dentes de cima, tenho de encomendar dentadura.
O Poeta pechincha:
- O dinheiro de dois meses? Não é muito? Dentadura custa tanto.
- Por favor – a faxineira insiste -, o senhor é intelecto, entende meu problema, preciso ter uma apresentação. Sem dentes, me engolem.
- Vou fazer as contas, te respondo na semana que vem.
Sai, lê os títulos dos jornais expostos na banca ao lado do edifício. Alguém lhe cutuca o ombro, vira-se, esbarra numa mulher alta e magra.
- Quem sou eu?
- Ora, Beatriz. Beatriz Maria de Morais Alighieri, a divina.
Ruidosa, Beatriz aperta o Poeta.
- O que você conta de interessante?
- Nada, absolutamente nada. Não me acontece nada de extraordinário.
- Pois comigo aconteceu de tudo... mas onde você se esconde?
- Aqui, nesse prédio marrom.
- E eu no amarelo em frente. Vizinhos e nunca nos vimos. Copacabana é terrível.
O Poeta não gosta do jeito da mulher, há quantos anos se perderam? Ensaia se despedir, bem, vou indo, qualquer hora a gente se encontra. Ela reage, puxa-o para o prédio amarelo. Moro no térreo, diz, escancara a porta do apartamento, estende o braço em direção a um menino de 9-10 anos, diante da televisão. Filho, este é um amigo da mamãe, diga boa tarde.
O menino olha o visitante de relance e se reintegra à imagem colorida. O Poeta, diz, oi, tudo bem? O que perguntar mais?, qual o teu nome, quantos anos você tem? Há muito não fala com criança, falta-lhe traquejo.
Beatriz o espreme na ponta do sofá, me conta tudo, quer beber alguma coisa? Ela o deprime, como ser solidário? Um-dois-três, já! Num salto, ele abre a porta, dispara até a calçada, atravessa a rua, entra na loja de sucos, pede um de abacaxi. O português da caixa tagarela: - Vacilou, Bebê Terremoto agarra. Se proteja, que aquela é perigosa.
Beatriz Alighieri. Ontem a divina, hoje Bebê Terremoto. O tempo, a crueldade do tempo. O Poeta toma o suco, volta para casa. A faxineira acabou o trabalho, se mandou. Vai financiar, resolveu, a dentadura da coitada.
Senta-se de novo à mesa, olha o papel rabiscado. Poesia nenhuma. Levanta-se, aproxima-se da estante, puxa um livro. Abre-o ao acaso, como abrira o caderno de telefones, e em voz alta lê os versos que justificarão esta tarde de sábado.
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Inveja – Sonia Braga conta em entrevista que já viveu uma noite romântica com outra mulher. Quantos homens não gostariam de ter sido essa felizarda.
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Indigente - Getúlio, Tancredo, Senna, Kennedy, Mao, Diana e tantos outros. Grandes funerais.
Na vala comum acabou Mozart, cuja música me emociona neste momento, 220 anos depois de sua morte.
Luxuosa variação de O bebê de tarlatana rosa.
ResponderExcluirAdorei!!!
Beijo,
Cristina Rito
Até que enfim, Cristina, seja bem-vinda e não suma.
ResponderExcluirMas, como variação de O bebê...?
Beijo.
Magaysíssimo, que jogo esse Brasil e Paraguai que terminou agora, o empate foi uma vitória. Mas passado o sufoco o que interessa é a história da Sonia Braga com uma mulherzinha, veja você, é claro que eu gostaria de ter sido ela. Sou muito mais novo que a Sonia, mas sonhar não custa nada.
ResponderExcluirAbraço do Igor Matoni.
Eu também já tive várias noites românticas com mulher e só serviu pra eu constatar que o meu caminho era outro. O mesmo aconteceu com o Leandro, a gente não esconde o passado um do outro, jogamos limpo, de homem pra homem.
ResponderExcluirBeijo a todos.
A Sonia Braga é uma mulher de dar inveja, não importa que já esteja velhota. Se eu fosse homossexual eu gostaria de transar com ela. Atenção pessoal: se eu fosse...
ResponderExcluirLi a entrevista da Sonia Braga, ela diz que não usa calcinha. Pra mim isso é desleixo, porcaria. Nada moral, mas sim questão de higiene e de segurança. Tô fora.
ResponderExcluirMas hoje vim aqui pra dizer que li o Poema Sujo. Eu disse ao Cosme que ia ler e li. Gostei mas não achei tão maravilhoso. Não é tão sujo quanto vocês me fizeram pensar. Valeu em termos.
Ana Gam no início da tarde de um domingo com sol tímido em Ipanema.
Boa tarde Magay.
ResponderExcluirA gente resolveu seguir a ideia do nosso sobrinho de usar o nome CARDRAS quando for um comentario de nos dois e tambem porque você gostou.
Carla e Esdras
Então vamo lá:
Quase todas mulheres que conheço não usam calcinha em casa como eu. E eu só saio na rua de calcinha porque tenho medo de dar um azar, sofrer um acidente e já viu né? Mas a sensação de liberdade é enorme.
Carla
Eu adoro mulher sem calcinha. Sinto as coisas muito mais e acho que isso acontece com todo homem.
Esdras
Magaysíssimo.
ResponderExcluirEste nosso espaço já era muito bom, agora sem calcinha então...delícia.
Abraço do Igor Matoni.
Marco,
ResponderExcluirTextos construídos com tanta maturidade não merecem comentários tão tolos.
Abração do Leonardo Paschoal.
Leonardo, se você fizer um comentário de mais qualidade será obviamente muito bem recebido. Por favor, fique à vontade.
ResponderExcluirMudando de assunto ... também acho a Sonia Braga muito bonita, já foi lindíssima, uma típica beleza brasileira mas que sempre deixou a desejar como atriz. A única cena marcante dela que eu me lembre foi naquela subida do telhado em Gabriela. Ali nem precisou falar, era só mostrar. Msa convenhamos que a fila anda e que temos atrizes muito mais bonitas que ela.
ResponderExcluire completando, atores também ! disso a gente não pode se queixar. Tem pra tudo que é gosto. Eu, particularmente, prefiro os mais velhos. A lista é tão grande que não vou dar nomes pra não esquecer nenhunzinho ... mas um amigo meu sempre me dizia que é melhor não querer conhecer seus ídolos de perto. Se bem que tem um em particular que não é ator, não é diretor mas vive povoando minha imaginação. A gente se entende, se desentende, briga, discute, reclama, separa, volta, não se resolve mas eu o amo muito e é pra encerrar a noite que vou dormir sonhando com ele.
ResponderExcluirGente, chega de falar na Sonia Braga. O que vocês acham do Eriberto Leão?
ResponderExcluirAna, releia o Poema Sujo. Aposto que você vai descobrir belezas que escaparam nessa primeira leitura.
Gay, você falando em Mozart aumenta minha vontade de me enfronhar em música clássica.
Beijo a todos.
Teresoca, só agora li o teu comentário sobre atores. Você se antecipou ao meu pedido de deixar a Braga de lado.
ResponderExcluirE afinal quem é esse cara que povoa tua imaginação? Não pode revelar?
Cosme, ele é um típico macho brasileiro que levam vc na conversa. melhor ficar como está. Desses que quando a gente pensa que alcançou, que laçou, ele escapole e some. Não tem jeito não. Mas sou feliz assim pque não quero amarra nenhuma . Fiz a minha escolha de viver assim. Só que ontem eu tive a chance de ficar com ele e não fui. Me arrependi.
ResponderExcluirJá que vc falou no Eriberto que dizer do Malvino Salvador ? e o Capitão Nascimento ?
E o que é que uma mulher pra frente como você faz com um típico macho brasileiro?
ResponderExcluirAh Teresoca, o Malvino, o Capitão, o Lázaro, como dá gato. E o meu Leandro, que é um baiano porreta.
Beijo a todos.
Cosme, poderia te responder em off. Não dá aqui pra falar das qualidades dele. Mas sou uma mulher do meu tempo e qdo ele me olha de frente os conceitos e preconceitos vão por água abaixo e naquele momento eu me entrego ao típico macho brasileiro.
ResponderExcluirAi, o Lázaro ! como esquecer dele ???
Teresa, você há de concordar comigo: quando se fala no macho brasileiro o tom sempre é negativo, mas ele não tem só defeitos. Como qualquer tipo tem também qualidades. Eu conheço machos de outros países e o nosso macho brasileiro não é assim tão horrível.
ResponderExcluirAna Gam no começo da tarde.
Ana, longe de mim dar um tom pejorativo ao mb. Penso logo no bom sentido. Eles é que se ofendem. Mas adoro o estilo de vida deles, cafajeste, mentiroso, malandro. Da porta de casa pra fora são invencíveis. Estilo Vanderlei Luxemburgo !!!! ahahah, muito macho vai reclamar.
ResponderExcluirAliás, Ana, as mulheres fora de casa também são invencíveis. A cabeça pira e fazem todas as loucuras. Voltam umas santas , cheias de sacolas de compras !!!!! Já fiz isso e posso te garantir que não tem nada melhor.
ResponderExcluirAi, Teresa, você agora me deixou arrepiada.
ResponderExcluirAna Gam no meio da tarde.
pois é ... também fico só de pensar nas loucuras que fiz. Mas te garanto que valeram todos os segundos de irresponsabilidade total.
ResponderExcluirDiscretíssimo Magay, começaram as confissões femininas. Toda atenção é pouca.
ResponderExcluirIgor Matoni, ligadão.
Teresa, a Ana fez uma menção ao homem (abandono a palavra macho) estrangeiro. E você, tem experiência com esse animal?
ResponderExcluirAnimal ?? que menosprezo é esse ? Duas experiências. Uma aqui outra fora do Brasil. Precisava fazer um tratado pra comentar. Lado bom e lado ruim. No contexto geral eles são bem mais tranquilos, respeitosos. Querem namorar, noivar e casar. Pelo menos com um deles foi assim. Até ajoelhar pra me "pedir" em noivado. Quase me deixei levar mas a carga que ele trazia era pesada, dois filhos homens adolescentes/problemáticos; fiquei preocupada. Isso tudo não teria importância se eu gostasse muito e se houvesse a tal pegada do mb (desculpe MA). Estava tudo correndo tranquilo demais e eu gosto de movimento. Aí não deu.
ResponderExcluirIgor, Igor. Não são confissões. São fatos normais que muitas de nós viveu e vive.
ResponderExcluirHoje, por ex., eu tenho certeza de que vou dormir bem.
Usei a palavra animal positivamente. Não houve menosprezo.
ResponderExcluirQuanto a Homem e Macho, o fato de eu usar Homem não te proíbe de usar Macho. Cada um cada um...
Parabéns pela experiência.
Teresíssima, fico feliz em saber que você terá uma noite colorida, você merece.
ResponderExcluirSe eu começar a fazer confissões vocês vão ficar de cabelo em pé, por isso me calo.
ResponderExcluirGay, voltando a falar de música clássica que abordei ontem, qual o tem compositor preferido?
Cosme, é impossível não gostar de Bach (o pai de todos), Beethoven e Mozart. Mas eu tenho um xodó especial por Brahms, Johannes Brahms. Tudo dele é bom. E também não se pode esquecer o nosso Villa-Lobos, que tem coisas maravilhosas.
ResponderExcluirO que conta é que se você passar a ouvir música clássica vai se entusiasmar e vai gostar cada vez mais e de tudo, ou quase tudo porque, claro também tem porcaria.
Fala , Cosme ! já viu que tarde foi de confissões um tanto pudicas, é verdade mas que deixam a imaginação ir longe. Prefiro assim e que cada um ajeite a história na cabeça da maneira que quiser.
ResponderExcluirIgor, imagino que minha noite vai ser tranquila ao lado de quem eu amo. Ele é o exemplo do MB.
Eu também amo a música em geral, tirando essas porcarias ue teimam em nos enfiar pelos ouvidos. Gosto também de ópera e todo o clima que ela envolve. Experimenta, Cosme. Um bom vinho, um bom queijo, muito silêncio e uma companhia tranquila. Tudo tem a primeira vez.
ResponderExcluirVcs todos tentem ter uma boa noite de sono ou de sonhos... eu vou ter a minha !
ResponderExcluirE daí Teresíssima? Tudo beeemmmm?
ResponderExcluirIgor Matoni, o curioso.
Prefiro não comentar a matar a sua curiosidade ...curioso, hein ? dormiu pensando nos meus sonhos ?
ResponderExcluirA gente sempre sabe pouco da pessoa com quem a gente vive. O importante é ter confiança e prazer, o resto a gente tira de letra.
ResponderExcluirÉ bom nem querer saber muito. Segredos fazem parte e dão uma pitada de mistério à relação. No amor vale a verdade, o desejo, a lealdade. Quando isso acaba tá na hora de seguir em frente.
ResponderExcluirGay, a mãe do Leandro tem uns lps antigos de música clássica e acho que tem o toca discos. Se der vou ouvir pra ir me familiarizando. Posso te fazer perguntas sobre as canções?
ResponderExcluirBeijo a todos.
Claro que sim, Cosme, estou à disposição. Mas, por favor, leve em conta que não sou expert no assunto. Sou um ouvinte amador (cada vez amando mais), sem conhecimentos técnicos. Todavia (há quanto tempo não lascava um todavia?), fique à vontade.
ResponderExcluirDepois de uma lida ligeira concluí que quem frequenta este blog mistura malícia com cultura. Gostei, vou ficar de olho.
ResponderExcluirPor ora me identifico como "Visitante".
Oiê, cheguei tarde mas cheguei. Fui ver o filme do W Allen. Ai, meu deus, vou dizer uma coisa. Achei um saco, chato , monótono. Sei que vou ouvir críticas a isso mas não consegui entrar no clima do filme. Me sentia ali na obrigação de achar tudo bonitinho, bem bolado só porque era do W Allen. Até Paris me irritou pra vcs verem como eu estava mal. O final então !! Sei lá, acho que vou tentar refrescar minha cabeça com um banho gelado.
ResponderExcluirAh, Teresa, Meia-noite em Paris é uma graça. Não é um filmaço, o Wood Allen já fez coisas muito melhores, mas vale a pena. Como é que você, depois de ter passado uma noite boa, pôde achar o filme um saco?
ResponderExcluirAna Gam noturna.
Não sei o que me deu, Ana. Quinze minutos depois de começado o filme eu estava a fim de ir embora. Nem as luzes de Paris me comoveram. Sabe qdo vc come um cachorro quente na hora do almoço que entope mas não satisfaz ? foi isso que senti. Não me tocou, não me comoveu, não me divertiu. Tipo arroz com xuxu. Agora. Ana, já que vc tocou no assunto, sem comparação com a noite anterior. Essa me satisfez, me comoveu, me inebriou...
ResponderExcluirQueridíssima Teresa, quer dizer que ontem você teve uma noite inebriante. Sem querer você matou minha curiosidade. Que venham outras noites assim.
ResponderExcluirAbraço do Igor Matoni.
pois é, seu curioso. É muito bom estar com quem se gosta. A fantasia é a gente que faz por isso talvez o filme tenha me enervado tanto. Não preciso de ninguém pra induzir meus sonhos. Eu mesma os construo. Foi bom sim, Igor. Lógico que outras noites virão.
ResponderExcluirTeresoca, você já me deu muita força, agora eu retribuo: muito prazer pra você.
ResponderExcluirBeijo a todos.
O prazer será todo meu, pode crer !
ResponderExcluirbjo.
Ulalá, mutirão pelo prazer. Uiiiii. Continuo de olho.
ResponderExcluirVisitante.
Madrugada, a nau flutua no ronco do Poeta.
ResponderExcluirO que virá pela manhã? O Poeta gasta seu tempo com o que pode.
Passante da madruga
Magaysíssimo.
ResponderExcluirO Visitante, o Passante, daqui a pouco o Tratante. Acho esses anônimos uma droga.
Abraço do Igor Matoni.
concordo, Igor. Se esconder de quê e pra quê ? bota qualquer nome ou assume alguma coisa. O melhor é nem ler os anônimos os passantes.
ResponderExcluirBom dia, pra todos, quase no final da manhã ...
Repito o que já disse aqui: prefiro que os comentaristas se identifiquem, mas Anônimo é um recurso oferecido pela administração do blog e que eu aceito desde que não haja filhadaputice e escrotidão.
ResponderExcluirpassante da madrugada, o que me dizes ? onde se esconde ? por que não mostra a sua cara ? tão chato falar com as sombras. Bota um nome aí.
ResponderExcluirmuito prazer, eu sou Maria Isabel Teixeira.