Mexendo numa pilha de papéis velhos, encontro uma entrevista de Braguinha, o João de Barro, em que ele conta que a marchiha “Moreninha da praia”, de 1933, era uma homenagem às meninas que chocaram a cidade ao abolir o uso da meia na Avenida Rio Branco e adjacências. Em 30, a avenida recebera os soldados de Getúlio, eles amarraram os cavalos no obelisco como se estivessem no interior do Rio Grande do Sul, e ninguém achou tão estranho assim. Vencedor é vencedor, estamos conversados. Mas exibir as pernocas nuas no Centro da cidade era revolução demais.
Fosse o Braguinha um desconhecido, um qualquer, e recordasse esse absurdo num papo com gente não nascida na época, corria o risco de passar por mentiroso, no mínimo por exagerado. Se eu porém estivesse entre os ouvintes, o apoiaria com duas pequenas histórias, ocorridas no verão de 1964 ou 65, mais de 30 anos portanto do abaixo as meias na avenida.
A primeira: tarde de sábado, plantão tranquilo na Rádio JB, terceiro andar do antigo prédio do Jornal do Brasil na Rio Branco, entre Ouvidor e Sete de Setembro. De repente, um alarido sobe da calçada, corremos todos para a janela. No outro lado, um punhado de homens perseguia uma mulher alta e loira de camiseta... e short. Estrangeira, estava na cara, ela não sabia que nesta cidade tropical o short caía bem em casa ou nas ruas da Zona Sul, perto do mar, jamais no centro comercial. Apavorada, a gringa conseguiu entrar num táxi e se mandar, sob vaias e aplausos.
A segunda história se deu num dia de meio de semana. Mais ou menos seis horas da tarde, vinha eu a toda do Ministério da Fazenda, no Castelo, pois ainda tinha de tirar do gravador o trecho da entrevista que iria ao ar às seis e meia. Na altura da Rua da Assembleia, esbarrei num ajuntamento, também de homens.
Apesar do pouco tempo disponível, parei para averiguar o que havia, repórter é repórter. “Nada não”, me respondeu um sujeitinho de pasta James Bond (estava na moda), terno e gravata, “só uma dona que apareceu aí vestindo a tal de minissaia e a gente veio atrás pra conferir. Ela se escondeu nessa loja e o dono baixou a porta. Não faz mal, a gente espera.” Felizmente, a polícia chegou em seguida e dispersou a macharia.
Histórias velhas, mas nem tanto, e que na mão de um artista como Braguinha, poderiam até, livres da carga de violência, ter virado alegres marchas de carnaval. De algum carnaval antigo, bem entendido, pois os carnavais de anteontem é que eram do peru. Ou estarei ficando saudosista?
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Obra-prima
Por falar em Braguinha, ontem ouvi Carinhoso, cuja letra é dele. O casamento da letra com a melodia – esta, do genial Pixinguinha – é de uma perfeição extasiante, duvido que alguém consiga ouvir a música sem se comover. Não é à toa que enquete feita há alguns anos mostrou que todo brasileiro ligado nas coisas sabe cantar pelo menos dois ou três versos de Carinhoso.
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Emoções
As economias americana e europeia na corda bamba (e, pelo jeito, sem rede embaixo), revoltas populares em vários países, da Síria à Inglaterra, o planeta, penso, vive um momento de intensa desarrumação. Por coincidência, leio no jornal, está sendo lançado hoje o livro O mundo em desordem, no qual um sociólogo e uma historiadora paulistas dizem que tanto o comunismo como o capitalismo saíram derrotados na disputa pelo controle do planeta. A sensação é essa mesma e agora cabe a pergunta: o que nos espera? Os próximos capítulos serão emocionantes.
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Ancião
Pai tardio, gosto quando o Artur (12 anos) e a Antonia (19) me chamam de Ancião. Ancião ativo, graças aos dois voltei a práticas há muito postas de lado, como ir a jogo de futebol, e adotei hábitos estranhos, como comer pipoca em cinema. Só falta mesmo providenciar uma tatuagem. Eles insistem, mas aí já é exagero, vamos com calma.
E, nesta véspera do Dia dos Pais, meu maior desejo é que a Antonia e o Artur se tornem melhores que eu. O que certamente acontecerá.
Mulheres perseguidas por homens, que não aceitam que elas adotem novos comportamentos, se libertando assim de regras impostas e seculares, é o velho machismo com toda força e muito longe de ser enterrado. Cabe a nós, as perseguidas, teimar e não desistir. Muita coisa já mudou mas ainda falta muito para sermos tratadas com dignidade. As mulheres de fibra não fogem à luta.
ResponderExcluirAna Gam, ao entardecer.
Não se iluda que nós também vamos passar por sérios problemas econômicos ou vc acha que ficaremos imunes a essa desarrumação ? A crise é mundial e muito preocupante. Infelizmente vivemos num país em que nada é levado a sério, em que ninguém se mobiliza, cada um vive tocaiado como se não fossemos responsáveis por nada quando, ao contrário, o povo unido tem uma força que nem ele mesmo sabe. Aqui, ir às ruas é sinônimo de carnaval, procissão e nada mais.
ResponderExcluirEntre nós não tem esse negocio de homem perseguir mulher ou vice versa, a gente se ama, mas é claro que a gente sabe que existe machismo como existe racismo, a gente é negro, não é mole.
ResponderExcluirBeijo da Carla e do Esdras.
Ana, Teresa, Carla e Esdras, vocês são tão diferentes e é ótimo que seja assim, viva a diferença. Com sono, dou boa noite, alegre por ter vocês entre os frequentadores do BP.
ResponderExcluirFeliz dia dos pais. Tudo de bom. O presente, ao meu ver, é a troca do tempo verbal: Antônia e Artur já aconteceram e são melhores que você.
ResponderExcluirSugestão:faça uma tatuagem. Você vai se tornar mais impossível.
Beijo
Realmente poucas obras são tão lindas quanto Carinhoso.Acho que ela traz um pouco de "céu na terra" e por isso sempre nos comove.
ResponderExcluirApesar de tudo somos todos iguais nas diferenças. Contra o racismo, contra a perseguição e contra o machismo.
ResponderExcluirUm beijo para os papais de hoje ! não é justo que cada um não tenha o seu por perto !
Aconselho a quem não viu o programa Painel, da GNews de ontem, sábado, procurar ver. Três participantes, entre eles o sociólogo Eduardo Giannetti, a meu ver o melhor deles faz uma análise perfeita sobre a atual crise que estamos vivendo e que o nosso editor cita acima.
ResponderExcluirConfiram !
Desculpe, a força está na pessoa. Antonia sem acento. Brava mulher!
ResponderExcluirMagaysíssimo, eu não sou pai nem planejo ser mas nunca se sabe, e se eu for também deverei ser pai tardio, o que pelo que já ouvi dizer é um prazer redobrado, por isso te dou meus sinceros parabéns, que o Artur e Antonia te reservem cada vez mais alegria. Quanto a tatuagem, depende o que for escolhido para ser tatuado, se for algo que te agrade, por que não? Você parece ser um homem de bom gosto, não acredito que cometesse um absurdo.
ResponderExcluirAbraço do Igor Matoni.
A meu ver(e não ao meu ver), Teresa
ResponderExcluirPenso que é mais interessante e esclarecedor gastar o tempo lendo qualquer texto de Bauman. "Vida para consumo" é um bom início. Confira e volte para nos contar.
Matoni,
ResponderExcluir"Cometer um absurdo", A meu ver, é ficar catequizando os outros. Eu torço para que ele escolha um tridente. Netuno não abandona seu cetro.
Homem que persegue mulher também persegue gay porque o machismo e a homofobia são preconceitos semelhantes, como os dois lados da mesma moeda.
ResponderExcluirO Leandro voltou de Salvador e nós passamos o fim de semana no maior love. Liguei pro programa da rádio de nossa cidade que atende os ouvintes e pedi "Carinhoso". Ouvimos juntinhos, que maravilha.
Beijo a todos.
Senhora Rito, quem está catequizando os outros? A senhora está vendo além da realidade.
ResponderExcluirIgor Avelino Soares Matoni a seu dispor.
Sobre o "Carinhoso", vocês sabiam que entre a melodia de Pixinguinha e a letra de Braguinha há um intervalo de 20 anos? A melodia é de 1917 e a letra, de 1937. O interessante é que tão grande intervalo não prejudicou a harmonia entre uma e outra, parece que as duas foram feitas simultaneamente.
ResponderExcluirE vocês sabem o nome do Pixinga e o do Braguinha, também conhecido como João de Barro? Do Pixinga é Alfredo da Rocha Viana. Do Braguinha, Carlos Alberto Ferreira Braga.
Visitante.
Sinto muito, Rito, mas quem escreveu "ao meu ver" foi vc mesma. Veja bem sua postagem antes da Celia Castro. Temo que vc tenha sido uma bandeirante, "sempre alerta e vigilante" mas dessa vez errou feio.
ResponderExcluirAi, Cosme. Gostaria de ter tido um fim de semana como o seu. Acho que pediria na rádio, "Só Louco".
ResponderExcluirObservei meu erro através do seu acerto, Teresa com S. Você é que não percebeu. Enxergo bem, melhor do que muita gente. "Pode crer". Enquanto o seu azul-turqueZa já estava criado, o meu céu turqueSa estava nascendo. Nas entrelinhas, foi parido. Muito bem parido. Sou cria de preso político que levou muita porrada dos "bandeirantes". Fiz uma reverência a você e estou recebendo uma farpa. Se fÔssemos amigas à vera, seu mundo não seria proparoxítono. Entendeu? ou não estou falando coisa com coisa. Calma.
ResponderExcluirUm ciber beijo da Rito diretamente da Ritolândia. Não da RiTLerlândia
Teresa com S,
ResponderExcluirNão tenho tempo para ficar assistindo carnaval pela televisão, não participo de procissões nem como farofa de alho. Aprendi muito, aprendo sempre. Obrigada pela sua postagem. Mas a "bandeirante" aqui é você.Com cinco nomes e tudo que tem direito. Vai escutar "Só louco". Cuidado com o ponto G.
Teresa,
ResponderExcluirSe fizermos uma análise dos teus textos, podemos constatar "nas entrelinhas" o seu "sempre alerta e OBEDIENTE":"finjo submissão". Eu não temo nada,tenho certeza que você é uma "escoteira dissimulada".O que leva uma mulher "com cinco nomes" a ser tão metida a "elegante". Elegância para mim é não ter estilo."Eu perdi o meu estilo: o que considero um lucro: quanto menos estilo se tiver, mais pura sai a nua palavra" C.L.
Eu forneço informações interessantes sobre o "Carinhoso" e seus autores, e vocês não as enriquecem com nada, a Cristina e a Teresa preferem ficar de tromba uma com a outra. Vamos mudar o foco, gente, vamos trabalhar em mutirão para o nosso engrandecimento.
ResponderExcluirVisitante.
Essa R. deve ter alguma mágoa escondida e não cabe a mim resolvê-la.. Como perde tempo analisando minhas postagens !!!! chega a ser hostil e deselegante a troco de nada.
ResponderExcluirPassemos adiante.
Oi Visitante, achei sim super interessante o que vc contou sobre esse espaço de tempo entre a música e a letra de Carinhoso. É que no meio do caminho tinha uma pedra ...
ResponderExcluirNão tem muito tempo, editor, e essa cena de correrem atrás de mulher se repetiu numa faculdade aqui no Rio, lembra ? a roupa da garota podia até não ser apropriada mas não era motivo pra fazer o que fizeram.
ResponderExcluirLembro, Teresa, só acho que foi em São José dos Campos e não no Rio. Ou estou confundindo? Mas, qualquer que tenha sido a cidade, foi horrível.
ResponderExcluirIsso mesmo, em SJ dos Campos. Mas ela soube tirar partido disso e hoje tá aí posando de modelo !
ResponderExcluirValeu, Teresa. E, além de você me dar uma força, citou indiretamente Drummond, um poeta federal, superior. A poesia prevalece.
ResponderExcluirVisiante.
"No meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho..."
ResponderExcluirnão foi indireta. Foi pra citar mesmo, Anônimo.
Entendi, Teresa, entendi. Agora, se possível, me chame de Visitante. Sou mais Visitante que Anônimo. Se possível...
ResponderExcluirVisitante.
Culpa sua de não se identificar. Que diferença faz um ou outro ? posso dizer visitante anônimo. O que vc é.
ResponderExcluirCalma, Teresa, só pedi um favor. Se possível, eu disse. Chame como quiser, tudo bem.
ResponderExcluirVisitante.
Igor, filhos são um problema e uma alegria pro resto das nossas vidas. Estamos sempre na dependência deles estarem bem pra gente poder estar também. Muito complicado. Um sobressalto constante. Se vc pode esperar mais um pouco trate de aproveitar bem a vida de solteiro.
ResponderExcluirTeresíssima, obrigado pelo conselho mas não sou solteiro, sou divorciado fazem 2 anos, fiquei casado 4 anos e tenho uma namorada forte, um vive na casa do outro. Não tive filhos no casamento e agora não pretendemos ter pelo menos por enquanto.
ResponderExcluirAbraço do seu fã Igor Avelino Soares Matoni.
Divorciado solteiro é. APROVEITE !!!!!!
ResponderExcluire se puder te dar mais um conselho,Igor, lá vai: nada de morar junto. Casa, roupa, escovas separadas ! Privacidade é fundamental num relacionamento. Lógico que vai haver um dia ou outro de exceção mas a proposta é essa. O amor vai durar muiiiiito. Talvez até pra sempre.
ResponderExcluirVou tomar coragem e dizer a vocês que acho essa música Carinhoso um saco ! sinto uma angústia enorme ao ouvi-la, Me dá vontade de dormir um sono profundo e só despertar qdo ela acabar. Pronto, falei !
ResponderExcluirTeresoca, discordo de você, acho Carinhoso uma maravilha, mas respeito tua autenticidade.
ResponderExcluirVou te dizer uma coisa bem baixinho: se eu transasse mulher, ia sonhar em transar com você.
Teresoca, Teresíssima, Teresa, você é uma unanimidade.
ResponderExcluirTeresíssima, o plano é exatamente cada um ter sua casa.
ResponderExcluirAbraço do independente Igor Matoni.
Cosme, estou pasma com oo que vc disse. Vindo de vc, assumido em sua boa relação com o Leandro, fiquei até sem graça ! nem sei o que dizer.
ResponderExcluirIgor, ainda bem que vc entendeu que esse tipo de vida salva um relacionamento do desgaste e da chatice que ele acaba se tornando. VIDA LONGA PRA VOCêS !!!
MA, não sou unanimidade alguma.
Nada salva nada. Os dois precisam querer, Matoni. O que desgasta é a mulher oferecer colo de mãe para macho já criado. Eu já joguei fora, faz tempo, meu sutiã de amamentação. O resto vale. Junto é sempre melhor.
ResponderExcluirDepois vou mandar, aliás,vou deixar na sinuca uma receita de pudim de leite diet, "sem colesterol"pra Teresa fazer para o Editor. Ele adora. Bom, adorava.
Matoni, euzinha mais uma vez. Dizem que um belo banho de ofurô bem juntinhos, caladinhos é um milagre para as tensões do cotidiano doméstico. Caso não tenha condições, massageie sua amada com espuma de sabonete, lave os cabelos dela, abrace-a com muito carinho. Procure nunca desqualificá-la.
ResponderExcluirDeixe que ela te mime, mas corresponda. Muitas coisas você já aprendeu aqui. Sorte, camarada, sorte!!!!
Teresíssima, quanta bobagem temos que ler, valha-me Deus.
ResponderExcluirAbraço do Igor A. S. Matoni.
Igor, minha receita é pular, pular ...
ResponderExcluirTeresíssima então pulemos pulemos.
ResponderExcluirAbraço pulativo do I. A. S. Matoni.
isso mesmo, Igor.
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