Quarta-feira que vem, 29, fará 53 anos que, por volta do meio-dia, o país parou em torno dos aparelhos de rádio para ouvir, entre mil interferências (a tecnologia da época, 1958, não garantia transmissões límpidas como as de hoje), Brasil e Suécia, a decisão da sexta Copa do Mundo de futebol, em Estocolmo. Era domingo, um domingo histórico e de muito sufoco. Ainda no início do jogo, os suecos marcaram o primeiro gol e, do Oiapoque ao Chuí (desculpem) correu o medo de sermos mais uma vez vice-campeões – nadar, nadar e...
Naquele momento – como soubemos mais tarde – Didi, o maestro e inventor da folha-seca, terror dos goleiros, pegou a bola no fundo da rede, voltou para o meio do campo com ela debaixo do braço e ordenou aos companheiros: “Agora, vamos encher esses gringos.”
Santas palavras! O primeiro tempo terminou 2 a 1 para nós e a partida acabou em 5 a 2, com a torcida sueca nos aplaudindo de pé. Caramba, éramos campeões do mundo, título que oito anos antes havíamos perdido de forma humilhante para o Uruguai, no Maracanã. Do Chuí ao Oiapoque (melhor assim?), a euforia tomou conta dos brasileiros, como se tivéssemos vencido uma guerra. Carnaval em pleno inverno.
Entre os craques vencedores, os mais reverenciados eram Garrincha, o das pernas tortas e do drible infernal, e Pelé, o menino-gênio que o mundo proclamaria rei – título até hoje não conquistado por outro atleta. De lá para cá, no esporte em geral, aqui e lá fora, surgiram vários príncipes, mas rei só o Sublime Crioulo, como dizia Nelson Rodrigues.
Me lembro que no dia seguinte à vitória, eu e meus colegas de futebol, todos adolescentes de 13/14 anos, disputamos uma de nossas peladas mais alegres. E, terminada a brincadeira, firmamos o pacto de que na Copa do Mundo de 62, no Chile, um de nós repetiria a façanha de Pelé. Pobres sonhadores.
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Os moços, que não viram o Sublime Crioulo em campo –, e também os que viram e querem relembrar – devem correr atrás do documentário Pelé Eterno. Uma joia, comovente. Existe em DVD.
(Eu tive o privilégio de pegar a carreira de Pelé do começo ao fim. E me arrependo de, por preguiça, não ter ido mais aos estádios para vê-lo).
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O dono das chaves - Nos seis anos de colégio marista - da 4ª série do Primário à 1ª do Científico -, não me tornei religioso mas desenvolvi grande simpatia pelo apóstolo Pedro, o santo do próximo dia 29, segundo o calendário católico. Bela figura, esse pescador do Mar da Galiléia, que Jesus convocou para ser pescador de homens e transformou no primeiro chefe de sua igreja (tu és pedra e sobre essa pedra etc etc.).
O que comove em Pedro é a autenticidade. Ele não disfarça o que sente, pelo contrário, se expõe continuamente. Se, ao andar sobre as águas lhe falta a fé e acha que vai afundar, não banca o forte – pede socorro; se se enfurece, ao assistir à prisão do Mestre no Jardim das Oliveiras, não engole a raiva – pega da espada e corta a orelha de um dos soldados; se o medo do castigo, por ser subversivo, o domina, não exibe falso heroísmo – simplesmente nega conhecer Jesus (por três vezes, antes de o galo cantar). Ou seja, não é homem de fingimentos.
E, no fim, dá uma lição de grande humildade: condenado à morte, pede aos carrascos romanos que o preguem na cruz de cabeça para baixo, para não morrer da mesma maneira que seu Senhor.
Não estou mais em idade de pular fogueira, mas se até quarta-feira passar por algum arraial, vou tomar uns goles de quentão em homenagem àquele que tem as chaves do reino dos céus.
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Fé - Junho se retirando, sexta-feira que vem já é julho, faço de conta que a mudança de semestre é mudança de ano e tomo uma decisão definitiva: daqui para frente acreditarei em tudo que os políticos andam dizendo na televisão e nos jornais. Como posso ser cético diante de tanta sinceridade?
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E se...? - Quatro dias de passeio em Curitiba, cidade em que vivi dos 6 aos 19 anos, e aonde eu não vinha há um bom tempo. O frio, a boa comida, a festa dos parentes, o terreno sem a casa da infância e adolescência. E, de repente, a pergunta a que jamais saberei responder: se eu não tivesse saído daqui, como teria sido minha vida?