Difícil saber se Maria, do departamento de pessoal, mulher de João, o subgerente, separou-se dele e passou a transar com meia empresa ou se passou a transar com meia empresa e separou-se dele. Difícil saber, e a ordem dos acontecimentos não importa. Importante foi o que ela disse às amigas, com apenas um ano de casada percebera que não queria marido, queria, isso sim, ser livre. Tão livre que logo largou o emprego e se mandou para Londres, na época destino de uma multidão de jovens brasileiros, de variado poder aquisitivo, ávidos de aventuras.
João era louco por Maria. Superado o abatimento que quase o liquidara, decidiu jogar todas as fichas: demitir-se e ir para a Inglaterra. Só voltaria ao lado da mulher ou, se ela definitivamente não o aceitasse, dentro de um caixão. O chefe, seu confidente (e um dos raros que não o traíra) tentou demovê-lo, esquece essa vagabunda, cara, ela não te merece, daqui um tempo você vai estar em outra, feliz...
O subgerente agradeceu as palavras do chefe, abraçou-o comovido e pediu as contas, eu tenho de ir, cara, tenho de ir, torça por mim. O amigo retribuiu o abraço e prometeu, João, quando voltasse, seria, se quisesse, readmitido.
João embarcou num sábado.
E num sábado, sete meses depois, voltou.
Voltou com Maria. Grávida, a paixão por João reacesa.
Instalaram-se na casa de uma tia e, já na segunda-feira, João reapareceu na empresa. Bateu na porta do chefe, mas nem precisou cobrar a promessa de readmissão. O empregado que, com sua viagem, assumira a subgerência, abrira dias antes uma empresa concorrente, a vaga é tua, o chefe vibrou, é tua mesmo que você não queira, te imploro... Engancharam-se num cumprimento ruidoso e, ainda ali, João convidou o chefe para padrinho da criança que crescia na barriga de Maria.
A vida se normalizou, a criança, um menino, nasceu. Maria arranjou emprego em outra empresa, com ela longe e a renovação natural de pessoal poucos veteranos se lembravam dela e de suas histórias. E os que se lembravam nada comentavam, João tinha poderes.
Mas seus poderes não valiam em casa, de novo Maria começou a se desregrar. João soube da reincidência por ela própria, uma noite, ao chegar do trabalho, encontrou-a de mala pronta e o filho com roupa de passeio, vamos embora, ela disse, há meses tenho outros homens e não quero mais morar com você. Pediu que o marido não a perseguisse, dali a um tempo daria notícias, não impediria que ele visitasse a criança. Aparvalhado, João não reagiu, deixou mãe e filho partirem. Sozinho na sala em penumbra, sentou-se no chão e ensaiou soltar os músculos para não morrer de tanta tensão. Não se mexeu ou chorou, não comeu ou se urinou, amanheceu sentado no chão, os músculos soltos.
Passados alguns dias, procurou Maria e, sem meias palavras, lhe propôs: se voltasse a morar com ele, a transar com ele, a dividir com ele o dia a dia do filho, ela estaria dispensada de lhe prestar contas do que fazia na rua. Jura?, Maria pôs doçura na voz. João jurou, eu desejo você, o resto é o resto, não interessa. Ela se equilibrou na ponta dos pés e, enxugando uma lágrima de heroína de lenda de amor, beijou o marido com vontade.
@@@@@
O Nobel da Paz sair para uma mulher já seria motivo de alegria para quem apoia a luta feminina por direitos iguais em todos os níveis. Sair então para três mulheres é alegria ao cubo. E sair para duas negras e uma árabe é alegria tamanho família, é uma senhora emoção.
@@@@@
Wall Street
De início, o crescimento nos Estados Unidos dos protestos populares contra a exploração econômica é de deixar a gente de queixo caído. Depois, brilha o óbvio: claro, é de lá que um dia virá o golpe que ferirá de morte o capitalismo.
Senhor editor, parabéns pelo sábado feminista, Maria se impondo sobre João em belo texto, e a alegria pelo Nobel da Paz para três mulheres.
ResponderExcluirVisitante.
Essa história da Maria pode e deve também ser invertida. Muitas Marias fazem que não enxergam, correm atrás, perdoam, ouvem juras e promessas de amor e, pouco tempo depois, tudo volta ao que era. João pinta e borda. Conheço isso de cor e salteado, de frente pra trás, com Maria e João e com João e Maria.
ResponderExcluirNesse exato momento eu gostaria de arrumar minha mala e ir pra Londres, Belgica, Saramandaia, Passárgada, qualquer lugar.
Desencantei.
Que bom seria se todos os homens fossem como o João. Nós as Marias seríamos mais felizes, todos seriam mais felizes.
ResponderExcluirO Nobel da Paz pra três mulheres, arrebentamos.
Ana Gam deseja bom domingo.
Concordo com você, Magay, os americanos vão matar o capitalismo. Vai demorar, mas isso vai acontecer.
ResponderExcluirQuanto à vontade da Ana de todos os homens serem do tipo João, nem precisava tanto, bastava eles abrirem a guarda só um pouquinho que tudo melhorava. Mas já foram piores, de vagar e sempre eles chegam lá.
Já penso diferente. Foi maravilhoso esses prêmios serem entregues a 3 mulheres. Vejo mérito, lógico, parabéns pra elas mas daí a fazer festa só porque são mulheres ??? por coincidência são mulheres. Nada demais.
ResponderExcluirMagaysíssimo, olha aí a mulherada querendo arrombar a porteira, menos a Teresíssima que tem os pés no chão. A postos amigo, olho vivo.
ResponderExcluirAbraço do Igor Avelino Soares Matoni.
Senhor editor, alegria dupla. Dois americanos, machos, ganharam o Prêmio Nobel de Economia 2011. Exijo um espaço pra eles também !!!!
ResponderExcluirA gente também ficou feliz com o prêmio Nobel da paz pra três mulheres mas como a gente é negro sobretudo pras duas africanas. Parabéns criolas.
ResponderExcluirCarla e Esdras beijam todo mundo.
Grande Teresíssima, eu não disse que ela tem os pés no chão?
ResponderExcluirI.A.S. Matoni.
Pés no chão e olhos para o mundo, amigo Igor.
ResponderExcluirLevantando a bola: ninguém vai falar no Steve Jobs?
ResponderExcluirMeu querido Editor, preste atenção. Isso foi publicado no seu blog de 1 de outubro... portanto ...
ResponderExcluirTeresa disse...
“A morte é a melhor invenção da vida. é o agente da mudança. é o que afasta o velho para dar lugar ao novo. Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira de evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Seu tempo é limitado. Tenha a coragem de seguir o que seu coração manda”. Steve Jobs.
Não há como deixar de prestar uma homenagem a esse gênio. Steve Jobs.
Comi mosca, Teresa. Perdão.
ResponderExcluirTeresoca, esse Steve Jobs além de tudo tinha um charme meio diferente sempre de calça jeans e de camiseta preta de gola fechada, era o feio que provoca.
ResponderExcluirBeijos beijos.
Tem toda razão. Cosme. E sempre de tênis. Super charmoso !
ResponderExcluirMenino, cadê vc ? a primavera acabando, o verão chegando e nada de noticias suas ???!!!
Por enquanto nenhuma grande novidade, Teresoca, mas a vida não tá tão ruim, tem momentos até de gozo. Algo me diz que vou acabar bem a primavera e eu acho que mereço.
ResponderExcluirAi, Teresoca, como fui esquecer o tênis do Jobs, palavrinha gostosa esta.
Beijos beijos.
Passei para deixar um alô e dizer que achei pitoresca a historia do João. Realmewnte eles vão mas sempre voltam. Nós temos a força !
ResponderExcluirPartimos hoje, dezessete pessoas, numa balsa meio precária, em direção aos que precisam de nós.
Voltamos em breve. Beijo você, minha amiga querida. O Claudio pretende ir ao Rio e quer te ver na volta. Beijo vocês por aí.
Maria Helena, é nas balsas precárias que vivemos as maiores emoções. Tudo de bom pra você, na sua aventura amazônica.
ResponderExcluirEntão as mulheres têm a força? É, talvez.
MH, vc tem toda razão. Eles vão e voltam. E a força está em saber conduzi-los. Mas como passar sem eles ?
ResponderExcluirPensei que vc já estivesse rio acima nessa aventura louca. Um dia, quem sabe, tomarei coragem.
Senhor Editor, vc também tem toda razão. Bota emoção numa viagem dessas.
Maria Helena, você é nova no BP, por isso não sabe (acho que não)que muito já se especulou se sou ELE ou ELA e eu faço questão de não responder. Um capricho, uma brincadeira. Pois é do alto desse mistério que eu digo: tanto eles como elas vão e voltam, depende da situação, não há regra. Portanto, não vamos nos apegar a clichês, o ir e vir é uma necessidade de homens e mulheres. O que mostra que somos todos iguais.
ResponderExcluirVisitante.
É isso aí, Visitante. E mais não precisa ser dito.
ResponderExcluirMas aproveitando a brecha: afinal, você é ele ou ela (rarrarrá)?
Usando o vocabulário de Visitante, precisa ser dito ainda que também entre nós os gays o ir e vir é uma necessidade de homens e mulheres, ou seja, é tudo farinha do mesmo saco.
ResponderExcluirBeijos beijos.
Senhor editor, sendo eu ELE ou ELA, não faz a menor diferença, e desista, eu não vou me revelar. Gostaria de não voltar a este assunto de somenos.
ResponderExcluirVisitante.
Por mim, Visitante, o assunto está encerrado (evidentemente, não posso falar pelos outros frequentadores do BP). No que depender de mim, "Ele-ou-ela" só voltará à ordem do dia se trazido por você, o que, parece claro, não deverá acontecer.
ResponderExcluirmuito cerimonioso e pedante, esse anônimo. Quer falar, fala. Quer se esconder, se esconda.
ResponderExcluirCalma, dona Teresa, vamos na maciota.
ResponderExcluirVisitante.