Ô, elegância, ô, elegância, pão com banana...
Em 2012, está no jornal, Nelson Rodrigues completaria 100 anos. Ao ler a nota me lembrei que li os dois volumes de Engraçadinha, seus amores, seus pecados em Curitiba, no auge da adolescência. Foi um incêndio, então Nelson não era apenas o cronista esportivo que transformava o futebol em epopéia, era o romancista (só mais tarde eu o conheceria como teatrólogo, nosso maior teatrólogo) que oferecia doses enlouquecedoras de erotismo (talvez eu ainda nem conhecesse essa palavra), que estourava os limites e ia fundo naquilo que mais me mobilizava.
No verão dos meus 18 anos, vim passar quinze dias de férias no Rio. Numa atitude típica de fã, procurei o ídolo no Jornal dos Sports - o JS era de seu irmão, Mário Filho, jornalista e romancista, cujo nome é o nome oficial do Maracanã. Ele me atendeu com toda delicadeza, conversamos. Tinha a voz grave, de uma densidade bêbada (e ele, alguém me disse, não bebia). Na inocência da idade, lhe perguntei se achava que sua obra ficaria. Me olhou incrédulo, meu anjo, quem sou eu? Meu anjo... o braço direito esticado, a mão no meu ombro, num gesto afetuoso.
Um ano depois, no verão dos 19, vim para o Rio de vez, fazer jornalismo. Nos primeiros tempos eu ouvia Nelson Rodrigues no rádio e o via na televisão, em programas esportivos e em entrevistas, sempre cheias de humor, sobre a vida e as paixões, o desejo e o pecado (foi numa dessas entrevistas que ele negou ter dito que toda mulher gosta de apanhar e corrigiu, só as normais).
Mais tarde, fui trabalhar no Globo, onde ele publicava suas colunas sobre futebol (À sombra das chuteiras imortais e Meu personagem da semana). Em certa época, às duas colunas ele acrescentou suas Confissões, cujos originais, foram, não sei quantas vezes, revistos (copidescados, no jargão profissional) por mim. Como copidescar Nelson Rodrigues, como mexer no texto de um mestre? De mais a mais, ele não datilografava em espaço três, como era a norma, e sim em espaço um, o que quase impossibilitava qualquer emenda. Me limitava pois a atualizar a acentuação (que ele não dominava) e a suprimir um ou outro erro de datilografia.
Em outra fase eu, que era redator do Segundo Caderno, em determinados dias completava o quadro da Editoria de Esportes. E lá estava Nelson que, embora, por ser uma personalidade, pudesse trabalhar em casa, gostava de escrever suas colunas na redação. Fumava bastante (naquele tempo, o fumo era liberado em qualquer lugar) e, de quando em quando (era de poucas palavras), soltava comentários sobre isso ou aquilo, esse ou aquele.
Nunca perguntei a Nelson se se lembrava de mim visitando-o no Jornal dos Sports, e ele também nunca falou a respeito. Acredito que não se lembrasse, devia receber muitos jovens, como eu, seus fãs.
Fora da redação, às vezes nos encontrávamos no boteco vizinho ao jornal. Ele entrava no seu andar curvado e, sabendo-se o centro dos olhares, caprichava no timbre bêbado ao pedir o lanche preferido: Ô, elegância, ô, elegância, pão com banana.
@@@@@
Heróis
O jornalista que, varado por uma lancinante dor de corno, atravessou na corrida uma porta de vidro. O jornalista que, atacado por súbita dor de barriga ao chegar ao trabalho, borrou-se no elevador, na frente do patrão. O jornalista que, depois de muito perseguir um subordinado, levou dele um banho de urina em plena reunião vespertina. O jornalista que, flagrado bolinando um contínuo na escada escura, enfartou. O jornalista que, apaixonado pela mulher do editor-chefe, apanhou de cinto. O jornalista que, demitido, ajoelhou-se diante do diretor e pediu nova oportunidade. O jornalista que ...
Quase cinco décadas de jornalismo e, na cabeça, tantas histórias grotescas de colegas, famosos e desconhecidos, que história minha citaria, se eu não fosse eu?
@@@@@
Promessa
E aí está de novo o discutido Horário de Verão. Prometo fazer de tudo para gostar.
NR dizia dele mesmo ser um anjo pornográfico. Por anos a fio eu só via pornografia no que ele escrevia. Mas sob a capa de um homem escrachado, devasso, despudorado consegui entender que ele era mesmo um anjo. Ninguém fez um retrato mais fiel da vida burguesa que ele. Era a vida como era mesmo.
ResponderExcluirMagaysíssimo, como você sabe eu gosto de teatro e se gosto de teatro gosto do Nelson Rodrigues. Dizem que a melhor peça dele é Vestido de Noiva mas eu prefiro Toda Nudez será castigada e Os sete gatinhos.
ResponderExcluirAbraço do Igor Matoni.
Esse horário só é meio estranho no primeiro dia mas depois segue normalmente. A gente se adapta a tudo, não ?
ResponderExcluirVestido de Noiva, Igor. Maravilhoso.
Hoje sou fã de NRodrigues e me lembro bem dele ns mesa redonds de esportes nos finais de domingo, junto com João Saldanha, José Maria Escassa e outros. Vc ainda era bebê mas eu já engatinhava !
Senhor Editor, o seu texto confirma o que eu já sabia, de outros textos e de ouvir falar: o Nelson Rodrigues era um figuraço, além, nem precisava dizer, de grande teatrólogo e cronista. Imagino como era engraçado, ele no boteco, chamando o atendente de Elegância e pedindo pão com banana, pura comédia.
ResponderExcluirDona Teresa, o horário de verão é um achado, a vida agradece.
Visitante.
Confesso que nunca li nada do Nelson Rodrigues, nem assisti o teatro dele, mas sei que a trama da peça Beijo no Asfalto começa com dois homens se beijando, e eles nem são gays. Na época que foi escrita, causou o maior escândalo mas hoje passaria em brancas nuvens porque homens se beijarem já é comum. Nesse aspecto o mundo melhorou muito, graças a Deus.
ResponderExcluirPor falar em beijos, beijos pra todos.
Cosme, somente a duas pessoas interessam os atos proibidos (?) e elas não devem satisfação a ninguém. Minha visão de hoje é muito diferente de 20 anos atrás. Tudo vale desde que seja feito com amor e consentimento de ambas as partes.
ResponderExcluirTeresíssima, GRANDE TERESÍSSIMA.
ResponderExcluirAbraço exagerado do Igor Matoni.
Voltamos ao porto de Manaus ainda sem completar nosso trabalho. Vamos esperar a tempestade passar para poder recomeçar. E assim ficamos por aqui, jogando conversa fora, entre uma caipirinha e outra.
ResponderExcluirTeresa amiga, perdi, ó tragédia, meu celular e com ele seu telefone e de outros amigos. Acho que posso usar o blog, não ?
Estou gostando de te ver tomando posições. Sempre desconfiei que você andava à nossa frente, com aquela ansiedade que não era própria da nossa idade. O tempo mostrou você em sua plenitude. Liberta ou libertina ? tanto faz, não é amiga ? melhor se forem as duas juntas. Seu espírito é irrequieto mas sua alma eu sei que é pura.
Até mais , beijo a todos.
Abraço exagerado ???? interessante ...
ResponderExcluirTeresa, quer dizer que sua alma é pura? Hummmmm.
ResponderExcluirNão entendi a pergunta com esse tom de malícia. Posso ser um misto de pureza e diabice. Uma combinação bem rodriguiana.
ResponderExcluirParabéns Teresa a gente forma um casal que gosta de misturar pureza e diabice, como diz você. Se um dia a gente virar irmãos vai ser muito chato e acho que a gente não fica junto.
ResponderExcluirCarla e Esdras beijam todos vocês.
Não é verdade, Carla e Esdras ?? é muito dificil conviver. O dia a dia é complicado, cheio de interferências. Acabamos virando amiguinhos. Depois de dois relacionamentos sérios optei por uma vida mais livre, consciente. Sou honesta no meu relacionamento atual. Quando ele quer eu vou e quando eu quero ele vem. Sou feliz assim.
ResponderExcluirComo estamos, hein Teresa ? assumindo relacionamento e não me contou nada !? curiosa pra saber quem é. Se ele souber te conservar vai ser muito feliz.
ResponderExcluirAinda estamos por aqui mas embarcamos na sexta.
beijo em todos.
Quem é, quem é o gato da Teresoca? Diante da pergunta da Maria Helena ela se calou. Por que Teresoca, não seja tão misteriosa.
ResponderExcluirAbraço do Igor Matoni, também cheio de curiosidade.
Igor, só vc mesmo! não tem mistério ... é o homem que eu amo muito e por quem estou apaixonada. Por enquanto estamos nos conhecendo. Não é assim que se diz ?
ResponderExcluirTeresíssima, só agora vi que te chamei de Teresoca, como faz o Cosme. É a influencia dele, será que é bom? Acho que é.
ResponderExcluirIgor, o moderno.
me chama do que quiser. Nosso Cosme anda sumido, acho que se apaixonou tbém...
ResponderExcluire vc ? conta de vc. Sexta é dia de confissões.
Teresíssima, já que o Igor te chamou como eu te chamo, eu então agora te chamo como ele te chama. Entendeu?
ResponderExcluirNão estou assim tão sumido, no dia 17 postei um comentário sobre "O beijo no asfalto".
Ainda não me apaixonei mas estou garimpando.
Beijos beijos.
Entendi... vc garimpando ? é que a gente sente sua falta e quer te ver aqui.
ResponderExcluirTeresíssima, Teresoca, acho tudo ótimo !
beijos