sábado, 19 de novembro de 2011

Grande Otelo, Macunaíma

Nos anos 60 (bota tempo nisso), passei a acompanhar PG, colega de redação nas idas a um barzinho da Avenida Princesa Isabel (divisa de Copacabana e Leme), ponto de jornalistas, mulheres (a maioria, mulatas) que trabalhavam em shows de boate e um ou outro ator (e atriz) de algum nome. Entre esses, o de maior expressão era Grande Otelo, que tinha vivido o auge da carreira no antigo cassino da Urca e nas chanchadas de Atlântida, em dupla com Oscarito.
Cupincha de PG, ele costumava sentar-se à nossa mesa. Sóbrio, tinha boa conversa. Bêbado, ficava chato ou agressivo. Certa feita, porém, embora de pileque, apareceu doce e alegre. O fato, contou, era que Joaquim Pedro de Andrade ia filmar Macunaíma, o livro de Mário de Andrade, e o chamara para viver o herói sem nenhum caráter. Estava por demais envaidecido, não escondeu, afinal, ser dirigido por Joaquim, um dos expoentes do Cinema Novo, mostrava que não fora esquecido. Havia no entanto um problema, confidenciou, que precisava ser resolvido logo: ele não conhecia o livro e era imprescindível lê-lo.
“Eu tenho”, me adiantei, “te empresto”. Grande Otelo, o olhar iluminado, me apertou o braço, “sério, você me empresta”? Sim, confirmei, e o aperto no braço aumentou. Trocamos tapinhas amigáveis, combinamos quando eu lhe entregaria o livro. Pouco depois ele foi embora, PG bateu firme, como se Grande Otelo fosse seu desafeto: “Babaca, otário, você vai trazer o livro, o crioulo vai te devolver no dia 30 de fevereiro, esperto ele, por que não vai a uma livraria e compra?” Tomou dois goles, mudou o discurso: “Você não percebeu que o cara está bêbado?, aposto que essa história de filme com o Joaquim Pedro é lorota, lorota de bêbado, de ator que já morreu e não se conforma, você vai perder o livro por nada.” Dei de ombros, “dane-se, vou emprestar e pronto, prometi, vou cumprir.”
Se Grande Otelo leu Macunaíma, não sei. Sei é que me devolveu o livro. E, como todos vocês, sei também que ele brilhou no filme, grande filme do talentoso Joaquim Pedro de Andrade. 

***

Já que falei no filme de Joaquim Pedro, não posso esquecer de citar Paulo José, que fez o herói sem nenhum caráter em sua fase branca. Tendo começado como galã, Paulo José foi se firmando, até se tornar um dos nossos bons atores. Em Macunaíma, ele já se mostra afiado, pronto para batalhas maduras.

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O cão e sua dona
Gente na rua recolhendo - a mão metida em saquinhos plásticos - fezes de cachorro é comum. Espantoso é o que vi dias atrás: uma mulher limpava com um pedaço de papel higiênico (de boa marca, imagino) o fiote do seu querido cão. Ela obesa, cilíndrica, ele pequeno e fino; ela curvada, a bundarra para o sol, os dedos na futucação, ele compenetrado, senhor da calçada. Realmente, não há limites para o grotesco.

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A vaia
      Ontem no Palácio do Planalto, na emocionante cerimônia de assinatura da lei que criou a Comissão da Verdade, que vai apurar a violação de direitos humanos durante a ditadura, houve momentos de aplausos entusiasmados. Só os três comandantes militares se mantiveram impassíveis. Como se estivessem sendo vaiados. E estavam, foi uma vaia interna. Tadinhos...

20 comentários:

  1. Macunaíma, moleque, safado, mentiroso, ardiloso. Quem melhor pra viver esse papel que Grande Otelo ?
    Lembro de ler e reler AMAR, VERBO INTRANSITIVO, que narra genialmente, com toda delicadeza, as primeiras experiências sexuais de um menino com sua governanta.
    Mario de Andrade, poeta, músico, professor e dono de uma grande correspondência com os maiores escritores da época. Bem lembrado, editor.

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  2. Não é do meu tempo, mas conheço a fama de bom ator do Grande Otelo através do meu pai que adorava as antigas chanchadas do cinema nacional. Eu vi Macunaíma já em dvd e gostei muito.

    Magay, acredite no que vou te dizer: eu também imaginei uma vaia em cima dos milicos que participaram da cerimônia no Palácio do Planalto. Deve ser o tal inconsciente coletivo do Jung.
    Ana Gam de volta.

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  3. Senhor Editor, vale destacar que o Joaquim Pedro de Andrade dirigiu outros filmes de qualidade, entre eles "O padre e a moça", inspirado no poema do Drummond, "Os inconfidentes", "Guerra conjugal" e "Garrincha, alegria do povo", este um documentário inesquecível. Foi uma pena ele morrer relativamente novo.
    Visitante.

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  4. Pois é, Visitante, o Joaquim Pedro morreu com pouco mais de 56 anos, em 1988. Uma pena, realmente.
    E é com vergonha que confesso: até hoje não assisti ao "Garrincha, alegria do povo". Sou um botafoguense desleixado.

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  5. Garrincha, com suas pernas tortas, enlouquecia o Maracanã. Joelhos infiltrados de cortisona para que pudesse jogar . Seu sonho de ser transferido para o Juventus, time italiano, foi cortado por um laudo médico que contou a verdade. Ele só jogava dopado.

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  6. Magaysíssimo, eu bem sei de ouvir dos mais velhos que Garrincha e Pelé foram o supra sumo, mas peço licença pra deixar o passado no passado e falar desse cracaço chamado Neymar. O moleque é do Santos mas eu corintiano doente tiro o chapeu pra ele.
    Abraço do Igor Avelino Soares Matoni.

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  7. De futebol eu não entendo, eu entendo de jogador. Entenderam?
    Beijos beijos.

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  8. O Igor também entende de jogador, Cosme. Mas não tanto quanto você, claro.
    Visitante.

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  9. Cosme, que tal essa lista ?
    Beckham
    Michael Owen
    Canavarro
    Thierry Henry
    e uma chance aos da terrinha:
    Raí..

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  10. Senhor Editor, a aprovação da Comissão da Verdade pelo Congresso deve ter exigido uma delicada negociação política para não melindrar os setores militares. Li que uma das condições impostas por eles foi que essa Comissão não tivesse o poder de julgar os apontados pelas violações dos direitos humanos. Já é um meio passo que mostra a verdade mas não pune.

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  11. Magaysíssimo, veja só, o Visitante, ou a Visitante, não sei, fazendo gracinha comigo. Mas tá bom, não brigo, eu tenho humor.
    Agora, ele ou ela podia aproveitar e dizer quem é.
    Abraço do Igor Matoni.

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  12. Eu acho que vc entende mesmo de jogador, Igor. O Neymar é um craque e vai dar muito trabalho. Ignore esse visitante. Também detesto as coisas escondidas.

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  13. Ai Teresoca, tua lista de craques é arrepiante.
    Beijos beijos.

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  14. Cosme, já pensou ser técnico de uma seleção dessas ?

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  15. Não entendo de futebol, mas concordo com Igor. Porque viver no passado, se temos tantos craques hoje. Olha o que o Fredi tem feito.Abraços

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  16. Magaysíssimo, veja que estranho o papo desse Anônimo que resolveu me bajular: diz que não entende de futebol mas sabe o que está acontecendo com o Fred. Não é estranho? Aliás, não me precisa me bajular não, não gosto de quem não mostra a cara.
    Abraço do Igor Matoni.
    PS -É Fred,sem i no final, aprenda.

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  17. Isso mesmo, Igor. Tbém detesto quem se esconde. Fredi com "i" é não saber mesmo nada de craques !

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  18. completando ... nem de português !

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  19. Modestia a parte, Santos minha cidade sempre foi um celeiro de craques, de Pelé a Neymar sem falar em Coutinho e muitos outros. Nem todos nasceram aqui mas todos viveram a gloria aqui.
    Esdras Barreto.

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  20. sempre achei asquerosa essa história de meter a mão numa sacola e recolher fezes de cachorro. Mas vocês hão de convir que é melhor que deixar no chão para se pisar.

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